Possibilidades didáticas da monitoria acadêmica na formação de professores | Didactic possibilities of academic monitoring in teacher training

DOI: 10.5281/zenodo.8150530 | PDF | Educazione Aperta 13/2023

This is an essay about the aspects related to the processes of academic monitoring and teaching internship. The text is part of a research that deals with a section of a larger study about the monitoring in the physical education course at the Pará State University (Brazil), being possible to relate the academic monitoring with the teaching internship, also related to the concept of teaching identity,  which has in its methodology a sampling of the universe of former monitors during the initial training of teachers to characterize the construction of an identity initiated in the completion of subjects related to teaching, such as didactics, and that impact the initial actions of the teacher in professional practice, both in the undergraduate course and in the academic master's degree. The study refers to the possible relations between the academic monitoring, the teaching internship and the "construction" of a teaching identity and, from collective didactics, in which the academic monitoring in the initial formation and the understanding of the role of the teaching intern, in a participative and critical way in the process of knowledge construction and of a professional identity.

Key-words: Teacher Training, Professional Qualification, Monitoring.

Introdução

Este é um estudo reflexivo sobre as possibilidades didáticas que permeiam o campo da monitoria acadêmica e estágio docente para a formação de professores, e relacionando com a identidade docente dos professores em formação e, para tanto, usa o aporte teórico de uma pesquisa maior destinada a capacitação de Mestrado em Educação, financiada pela CAPES, aplicando em uma amostragem do universo de sujeitos ex-monitores durante a formação inicial de professores para caracterizar a construção de uma identidade que se inicia já na integralização de disciplinas voltadas para a docência e que impactam nas ações iniciais do professor em prática profissional.

A partir da formação inicial e possibilidade de inserção do acadêmico em processos que possibilitam a interação entre professores e alunos, a exemplo da monitoria, foi feita uma análise com a relação existente entre os mestrandos e orientadores a partir da vivência no modelo de estágio docente que é possibilitado durante o mestrado e doutorado. A relação a partir do diálogo e interação com alunos e professores possibilita a criação de uma didática colaborativa, que prioriza a interação e permite com que alunos, estagiários e monitores possam colaborar na formação, e que ainda, possam contribuir na escolha da identidade docente do professor em formação.

É importante salientarmos que a pesquisa é pioneira no curso de educação física da Universidade do Estado do Pará, onde além de investigarmos a fundo sobre a monitoria no curso e relacioná-la com o projeto político pedagógico instaurado para os anos de 2008 a 2020, ela apresenta suporte teórico e prático para políticas universitárias na formação inicial voltadas para a intervenção profissional.

A identidade docente de professores em formação é “construída” ao longo de diversas experiências e vivências no meio acadêmico. Ao caracterizar uma identidade docente pessoal para o professor em formação, é passível de mudanças, em virtude do acontecimento de novos fatores que possam permitir que essa identidade venha a sofrer mudanças ao longo do tempo. A identidade docente, de acordo com Lawn (2001), pode ser modificada conforme a necessidade, em especial as que são modificadas pelo Estado para a moldagem dos professores do ensino público, para que eles fiquem reféns de todo o sistema que existe por trás das políticas educacionais.

Entre as possibilidades de “criação” dessa identidade docente, estão diversos fatores que podem influenciar, citamos as questões políticas e como este estudante se posiciona politicamente, indicamos os aspectos sociais a partir de uma perspectiva de como este futuro docente irá lidar com esses panoramas sociais que exigem de todos nós um olhar de cuidado e atenção. Os professores “agem como uma parte necessária de uma proposta educativa, embora surjam, nessa mesma proposta, como sombras, representantes ou sujeitos” (Lawn, 2001, p. 118), a partir de dinâmicas feitas por meio de políticas que façam o professor se mutar para se encaixar nos moldes do que é exigido pelo Estado.

Para Vieira e Neira (2016), as relações de poder entre os pares inseridos na sociedade, impactam na forma com que as identidades são desenvolvidas de acordo com o momento. Para o modelo atual de sociedade, em que a lógica neoliberal está ascendendo em meio a educação e as relações de poder. É possível analisar que as identidades de professores são muito influenciadas pela lógica do mercado, ainda mais se tratando de professores lotados em instituições privadas, que dependem do sistema mercadológico da educação.

Para a ampla formação do professor em início de carreira docente, é necessário a ampliação de características acadêmicas e docentes, entre as fases construção da identidade docente dos professores, existem fatores que contribuem para a identificação das particularidades que mais lhe aproximam do ser docente dentro do campo de estudo, onde “a identidade é “produzida” através de um discurso que, simultaneamente, explica e constrói o sistema” (Lawn, 2001, p. 118).

As identidades são particularidades de cada indivíduo e determinam sua forma de agir e pensar em meio a uma sociedade. Cada identidade é única, pois somos seres capazes de nos reinventarmos a todo momento. Para os professores, a identidade é passível de mudança, mas em sua essência, os professores já direcionam suas identidades ainda no início da carreira docente, no caminho em que acreditam ser o mais certo, em especial pelas suas lutas políticas, como ao que apontam Vieira e Neira (2016, p.784) “Em tempos de intensificação das políticas de identidade, ou seja, de disputas cada vez mais acirradas pelas representações que sustentam o sujeito ideal, ser professor é estar imerso em lutas por concepções, sem que haja neutralidade nas opções teóricas e, consequentemente, políticas”.

O processo docente é diretamente influenciado com os aspectos que ocorrem ao redor, sejam eles econômicos, sociais ou políticos. A essência da formação de professores é pautada em um conhecimento que abrange muito mais que o conhecimento material. No universo acadêmico, existem diversas possibilidades de direção para a formação de uma identidade profissional, seja em disciplinas, estágios supervisionados, monitorias acadêmicas, atividades de extensão, projetos de iniciação científica, projetos de iniciação à docência, e especialmente nos cursos de mestrado e doutorado, existe a possibilidade do estágio docente, o qual pode potencializar a ampliação de experiências para os professores que optam pela formação continuada. São amplas as possibilidades que se demonstram como pontes de conexão entre o ensino e a docência. Para este estudo em específico, elencamos a monitoria acadêmica e o estágio docente como dispositivo para a ampliação dessa identidade docente, a partir da vivência dos processos.

A monitoria acadêmica, como possibilidade de inserção do acadêmico-monitor no meio docente, com o acompanhamento das aulas do professor-orientador, tem a possibilidade de proporcionar o acúmulo de conhecimento e experiências que podem favorecer a construção da identidade docente desse futuro professor, em meio a ações que possibilitam experiências do acadêmico-docente, como a participação em aulas, elaboração do plano de ensino para a disciplina, atividades avaliativas, e atividades que permeiam o fazer docente.

Ao participar do processo de monitoria acadêmica no ambiente universitário, aspecto que também é possibilitado com o estágio docente, com o orientador do mestrado ou doutorado, mas diferente da monitoria, o estágio docente permite que o professor retorne ao ensino superior, já formado e com experiências que vão além do que é visto na graduação.

De acordo com Dantas (2014), a monitoria compõe um aspecto que perpassa pela melhoria do ensino através do contato próximo do monitor como orientador do processo. A monitoria permite que o estudante participe do planejamento e todo o processo de ensino das disciplinas ao lado do professor, que se torna referência de trabalho docente para o monitor, o qual está inserido na disciplina que mais houve aproximação durante as aulas na graduação.

As motivações por trás da pesquisa

A partir das discussões sobre a identidade docente e suas relações com o processo de monitoria acadêmica realizado durante a graduação, se desenvolve o estudo, no intuito de estabelecer os possíveis entrelaces entre os dois campos. Com a justificativa de vivência pessoal do processo e entendimento de que foi primordial para a formação docente, em virtude da experiência com a monitoria da disciplina Estágio Supervisionado II, e com o propósito de analisar as relações entre a vivência da monitoria com a construção de uma identidade docente de professores em início de carreira, os quais se encontram em preparação para a garantia de emprego e a tranquilidade que almejam para a prática profissional.

Além disso, é necessário relatar que a experiência profissional que obtive no estágio docente com a disciplina recém implementada no curso de educação física da Uepa, a qual se caracteriza como “Práticas curriculares na educação física escolar”, foi essencial durante o mestrado, onde além de ter me possibilitado dialogar com questões que não foram abordadas com profundidade durante a minha graduação, me possibilitou a aproximação com a minha orientadora.

Para que as questões principais do artigo sejam atendidas, elencamos alguns autores base para fazer a discussão com o objeto de estudo e o que se pretende ao final do texto, que é acrescentar informações e aporte teórico para estudos sobre monitoria no campo da educação física, os quais ainda são pouco encontrados. Entre os principais autores estão Dantas (2014), a qual discute acerca do campo de estudo da monitoria, Nozaki (2015) na perspectiva de atuação profissional de professores de educação física, Taffarel, Lacks e Santos (2006) para a discussão no campo da formação de professores de educação física e Lawn (2001) e Vieira e Neiva (2016) para o debate no campo da identidade docente.

Além desses autores citados, será feita uma discussão com o Projeto Político Pedagógico (PPP) do Curso de Educação Física da UEPA (CEDF/UEPA) para obter as principais características curriculares e objetivos principais para a formação de professores de educação física na UEPA.

Com base nas características explanadas ao longo do texto, o objetivo central do estudo é caracterizar as implicações da monitoria para o desenvolvimento da identidade docente do professor de Educação Física do Curso de Educação Física da Universidade do Estado do Pará (CEDF/UEPA).

Este texto pretende corresponder ao estudo da monitoria e do estágio docente como forma de contribuição para os professores em formação inicial. Sendo papel principal da pesquisa discutir sobre conceitos acerca da monitoria, estágio docente, identidade docente e formação de professores de educação física, os quais estão em processo de descoberta de novos saberes e novas experiências na atuação profissional.

A metodologia investigativa como produção de reflexão

Esta pesquisa representa um recorte de um estudo maior no campo da monitoria, como obtenção do diploma de mestrado, a qual visa mapear o campo de atuação dos professores de educação física que participaram do programa de monitoria acadêmica da UEPA como monitores. A pesquisa maior se dá em âmbito estadual e pretende discutir acerca da relação entre monitoria acadêmica, formação inicial de professores e prática profissional de monitores egressos de 2008 a 2020 e que já estejam em campo de atuação profissional há pelo menos um ano.

E para além do que está sendo proposto na dissertação, incluímos o debate do estágio docente, o qual é a possibilidade que os mestrandos e doutorandos têm em participar de maneira ativa no processo de elaboração e planejamento de aulas para a graduação com o orientador – ou um professor que se aproxime ao seu objeto de estudo – e tenha a oportunidade, assim como na monitoria, de poder intervir e dialogar com a turma, havendo uma certa semelhança com o processo de monitoria acadêmica.

A questão da identidade docente que está sendo abordada no presente estudo decorreu da curiosidade em descobrir de que maneira a monitoria contribui na “construção” dessa identidade profissional, a partir da disciplina de Saberes, cultura e identidade docente, feita com a turma do doutorado em educação da UEPA, a qual desempenhou papel de pertinência em minha formação profissional e instigou para uma investigação acerca do campo da identidade docente e conexões com minha pesquisa de mestrado.

A identidade docente é socialmente construída ao longo da vida, desde os primeiros contatos com professores no contexto escolar até o momento das disciplinas em sala de aula nas Universidades, que são o primeiro contato do estudante de graduação no ambiente universitário. As variadas práticas de ensino no processo de formação de professores concorrem para a “criação” de uma identidade docente que mais se adequa aos valores e práticas de cada perfil de professor. Os estágios feitos durante o período universitário, que são obrigatórios ou não, fazem o acadêmico passar por períodos de reflexão do seu agir docente, assim como o processo de monitoria como uma formação complementar, o qual é destinado para a ampliação dessas possibilidades do agir docente ainda na Universidade.

A metodologia da pesquisa que faz o suporte teórico-prático para esse artigo, se organizou com a finalidade de responder o problema da pesquisa, o qual definimos sobre como caracterizar as implicações da monitoria no desenvolvimento da identidade docente do professor de educação física, em específico de professores de educação física graduados pela UEPA que já estejam inseridos no campo de atuação profissional, sendo observado se eles optaram ou não pela escolha de formação continuada.

O método científico escolhido para a pesquisa foi o dialético, com abordagem combinada entre qualitativa e quantitativa para analisar os dados coletados, onde utilizamos questionário de respostas curtas e longas para sabermos quais foram as principais disciplinas encontradas, bem como em que campo de atuação estão inseridos profissionalmente, para então questioná-los acerca das relações entre a monitoria e a identidade docente.

O lócus da pesquisa é o CEDF/UEPA/CAMPUS III, e a amostra da pesquisa são monitores egressos entre os anos de 2016 e 2019, sendo a população de 39 monitores bolsistas, os quais foram escolhidos de maneira aleatória, sendo analisado os editais de publicação de monitoria dos respectivos anos para o contato com os monitores via redes sociais, através dos nomes encontrados nos editais de publicação da UEPA para a monitoria no Centro de Ciências Biológicas e Saúde (CCBS).

O instrumento de coleta de dados que foi utilizado foi o Formulários Google, por existir maior facilidade em contactar os monitores que não moram mais em Belém e região metropolitana. Foram investigados 13 monitores egressos do CEDF/UEPA que já estão com o título de professores de educação física há mais de um ano, com o intuito de estabelecer as relações com a prática profissional.

O questionário foi composto de cinco perguntas acerca da monitoria e atuação profissional desses professores, as quais foram: a disciplina que você monitorou; o principal campo de atuação profissional; participação em programa de lato/stricto sensu; a monitoria e a construção da sua identidade docente; o impacto da monitoria na formação profissional.

A escolha das perguntas foi construída com o intuito de responder aos objetivos específicos da pesquisa para o presente artigo, os quais estão organizados para atender o objetivo central do estudo. A análise dos dados foi tabelada em 3 quadros que representam as questões 1, 2 e 3, respectivamente, e as outras duas questões mais específicas foram analisadas com a busca de palavras e termos mais citados pelos participantes da pesquisa para fazer a discussão com os principais autores escolhidos.

Para a pesquisa, optamos pela entrevista de monitores entre os anos de 2016 e 2019 por haver aproximação e conhecimento pessoal do processo de monitoria escolhido pela UEPA para esses anos, a partir da vivência pessoal do processo e descoberta de novas habilidades e conhecimentos para a formação pessoal. A pesquisa contou com Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), o qual foi disponibilizado aos participantes ao final do formulário via Plataforma Google.

Sobre a formação inicial e a perspectiva para o mundo do trabalho

Nesta seção é feita a discussão dos dados coletados na pesquisa, com o desígnio de interagir com os principais autores acerca do campo de estudo da monitoria e da identidade docente, que são os elementos chaves da pesquisa, perpassando também pela formação inicial de professores de educação física e o ingresso na vida profissional após a almejada titulação de ensino superior.

A formação de professores de educação física, em âmbito local, voltada para o curso de educação física e de acordo com o Projeto Político Pedagógico (PPP) deste curso, anuncia “sua real função permanente de pesquisar e produzir meios e propor alterações de sentidos para o desenvolvimento humano e pleno de toda a sociedade” (CEDF/UEPA, 2007, p. 21), em consonância com o que se almeja para uma sociedade em que se conviva com mais equilíbrio em diversos setores.

Em virtude de uma formação de amplo caráter, o PPP do CEDF/UEPA demonstra uma vasta possibilidade de ampliação visando o desenvolvimento pleno da sociedade. Para isso, o PPP propõe a interação entre a tríade ensino, pesquisa e extensão, que compõem o tripé universitário para obter a aproximação do sucesso na formação docente. Para que esse tripé funcione, é necessário haver uma união da comunidade universitária, envolvendo professores, estudantes, pedagogos e todo o universo acadêmico em prol de um fator: a melhoria da qualidade do ensino público.

O Curso de Educação Física da UEPA é composto por disciplinas que permeiam o campo educacional com teorias e práticas diversas no âmbito da educação física, as disciplinas são organizadas por departamentos, os quais se organizam da seguinte forma: Ginástica, arte corporal e recreação (DAC); Morfologia e ciências fisiológicas (DMCF); Desporto (DEDES); Ciências do movimento humano (DCMH); Saúde comunitária (DSCM); Filosofia e ciências sociais (DFCS); Psicologia (DPSI); Educação geral (DEDG) e Educação especializada (DEES).

Entre os nove departamentos existentes no CEDF/UEPA, constatamos que apenas três deles tiveram a possibilidade de inserção de monitores nos anos de 2016 a 2019, sendo encontrada a predominância de disciplinas do departamento de artes corporais (DAC) entre a maior oportunidade de inserção na monitoria. Para demonstrar com clareza a relação encontrada na pesquisa, elaboramos o quadro 1, o qual foi elaborado a partir das respostas dos 13 monitores egressos entrevistados.

Quadro 1: Relação disciplinas monitoradas por Departamento e quantitativo de monitores

Fonte: Elaborado pelas pesquisadoras, 2022.

É possível analisar uma quantidade acentuada de monitores da disciplina de Fundamentos e métodos do esporte, que é a única disciplina vinculada ao departamento de desporto entre as que tiveram monitores nesse período. É possível perceber que existe um quantitativo maior de disciplinas monitoradas em comparação com o quantitativo de participantes da pesquisa, isso ocorre pelo fato de um monitor ter conseguido passar em anos consecutivos em disciplinas diferentes no processo de monitoria.

A disponibilidade de vagas de monitoria acadêmica é discutida em departamento e avaliada pelo conjunto de professores que o compõem, e podemos analisar que as disciplinas que mais apareceram na pesquisa foram disciplinas que permeiam o campo escolar. Já as disciplinas consideradas essenciais para a prática de atividades do campo da saúde ou do fitness não disponibilizam vagas para a monitoria, a única disciplina encontrada nesse âmbito é Anatomia Sistêmica e Funcional.

De acordo com Nozaki (2015), a educação física está em constante evolução no campo da saúde, desde os anos 80, a partir da implementação das academias de ginástica no território brasileiro. Este setor foi ganhando força em âmbito nacional e hoje é considerado essencial para as práticas em educação física e saúde, portanto, é importante que os acadêmicos passem por diferentes vivências ainda na graduação, e a monitoria entra como papel de destaque no âmbito educacional voltado para a docência.

A partir da organização das disciplinas e departamentos para os monitores no CEDF/UEPA, se demonstra a necessidade de apresentação da organização destes professores na inserção no campo de atuação profissional, para descobrir se a perspectiva nacional de tendência profissional a ser seguida está sendo repetida com os egressos da UEPA.

Portanto, o quadro dois demonstra a organização em função da segunda pergunta feita aos monitores egressos, que os indagou acerca do campo de atuação profissional. Os campos de atuação profissional na educação física, de acordo com Nozaki (2015), se dividem em dois, os campos escolares e os campos não escolares, que englobam toda a área da saúde e do fitness em geral.

Quadro 2: Mapeamento dos principais campos de atuação profissional dos monitores.

Fonte: Elaborado pelas pesquisadoras, 2022.

A partir da análise do quadro 2, pode-se observar que o campo de atuação profissional mais citado pelos monitores egressos é o fitness, com a ocorrência de mais de 50% dos entrevistados, inferindo que a consultoria online também é feita no campo do fitness. Neste quadro houve a ocorrência de duas respostas pelo mesmo participante, somando 14 respostas novamente.

A escolha profissional pela educação física é predominantemente feita por aspectos que permeiam o campo do fitness, o qual inclui as academias de ginástica, os esportes, as lutas e as danças. Os interesses pela docência geralmente são construídos durante os cursos de formação, a partir de experiências que possam despertar a vontade de praticar a docência a nível escolar ou universitário.

Os aspectos analisados por pesquisadores do campo do trabalho acerca da desvalorização do professor de educação física que trabalha com o fitness são muito comuns, onde o trabalhador é visto como alguém que pode ser transformado em uma mercadoria barata (Bastos, Soares, 2014). O modelo de empregabilidade dos professores nas academias de ginástica atualmente se tornou uma possibilidade de empreendedorismo por meio do trabalho informal como personal trainer, os quais precisam se desdobrar para conseguir a garantia de rentabilidade no final do mês.

O que podemos inferir acerca do exercício profissional no campo da saúde, é a facilidade de conseguir meios de renda após formado, pelo exercício do trabalho de personal trainer, trabalho este que se assemelha aos plantões feitos por médicos. Com a possibilidade de rentabilidade consideravelmente alta em detrimento do cansaço.

Apesar de todas as contradições de direitos trabalhistas que o campo não-escolar pode ocasionar, Antunes (2020) nos remete à ideia de que é um privilégio para estes trabalhadores terem alguma fonte de renda, ainda que seja difícil saber quanto conseguirá atribuir aos rendimentos ao final do mês, ao não possuírem contrato de prestação de serviços para com os alunos. Acaba por se tornar um privilégio porque existem muitos profissionais formados e qualificados que não conseguem ter esse “privilégio da servidão”, como Antunes (2020) nomeou seu livro.

A docência, por outro lado, apesar de ter seus pontos negativos como a desvalorização do professor lotado nas escolas públicas com a defasagem de salários e espaços inapropriados para as práticas corporais, é o meio mais seguro de garantia de um futuro dentro da educação física, onde o setor do empreendedorismo está se saturando e não tem a garantia de nenhum direito trabalhista para os professores que se consideram empreendedores da área da saúde. E por isso consideramos importante a relação da formação continuada de professores, para haver a qualificação e posteriormente conseguir almejar salários dignos da profissão.

O quadro 3 demonstra a relação entre a participação de programas de formação continuada e a monitoria, havendo possibilidade da relação entre os dois aspectos por haver uma certa pontuação de currículo nos programas de pós graduação para quem obteve certificado de monitor, acrescentado do interesse pela da docência após ter a experiência de monitorar uma disciplina que lhe familiariza, de acordo com Dantas (2014), é um ambiente propício para o interesse à formação crítica e docência no ensino superior.

Quadro 3: Relação entre a participação em programas de formação continuada

Fonte: Elaborado pelas pesquisadoras, 2022.

A partir da análise da terceira pergunta, é possível observar a adesão de mais de 50% dos monitores pesquisados a programas de formação continuada, seja a nível de especialização ou mestrado, podendo haver relação com as demandas que a monitoria proporciona aos participantes e as pontuações que são atribuídas aos ex-monitores em editais de vagas de mestrado e doutorado.

Esta relação pode ser demonstrada por diversos fatores, mas em especial ao fato de pessoas que realmente estavam interessadas na graduação em permear as diversas possibilidades que a Universidade propõe aos seus alunos de graduação. A monitoria é um objetivo conquistado por poucos, os quais tem o interesse de realmente imergirem no campo das práticas curriculares, os quais tem decorrência de conhecimentos didático pedagógicos já experenciados pelos professores que orientam a monitoria.

De acordo com Taffarel, Lacks e Santos (2006. p. 93), “nenhuma licenciatura forma para enfrentar a complexa situação no campo e na cidade”, isto é, a educação não está voltada para os problemas reais e cotidianos da população, é necessário formar professores que estejam preocupados com o caráter formativo que terão que enfrentar e lutar para a superação das reais circunstâncias. A educação física está sendo pautada no ponto de vista do mercado de trabalho (Taffarel, Lacks e santos, 2006).

Em debate com o campo da formação de professores e os objetivos a serem propostos e seguidos para haver sentido na formação, os autores continuam dialogando com o seguinte pressuposto para a educação “deve-se formar professores para uma realidade complexa e contraditória que exige a formação humana na perspectiva da omnilateralidade, da emancipação humana e da transformação social, ou seja, na perspectiva da construção de um projeto histórico para além do metabolismo social determinado pelo capital para organizar a vida e a formação humana” (Taffarel, Lacks e Santos, 2006, p. 93).

A formação na e para a educação física deve se pautar em um preceito de ensino de qualidade para todos os âmbitos, seja para a área da saúde ou para a área e os conhecimentos escolares, em virtude de a educação física estar à mercê dos preceitos e interesses do Conselho Federal e Estadual que estão regulamentando a profissão e consequentemente o currículo e as normas para o ensino da educação física em território nacional.

A formação de professores de educação física vem se caracterizando em uma perspectiva de formação para a diminuição de espaços reflexivos para a prática educacional, a partir dos interesses do capitalismo, então, de acordo com Taffarel, Lacks e Santos (2006, p. 102) “No que diz respeito à concepção de professor a ser formado, destacamos que pensar uma concepção de professor é pensar em que escola queremos construir”, a partir das possibilidades de inserção efetivas desses futuros professores em espaços de discussão e reflexão de uma educação que vise a melhoria do ensino e dos espaços voltados para a educação física.

Um dos ambientes que proporcionam aos graduandos pensarem sobre a prática na educação física é a monitoria acadêmica, a qual poderá ser espaço de reflexão acerca da prática do professor ainda na graduação, a partir da participação dos monitores em amplos espaços de planejamento, avaliação e interação ao lado dos professores orientadores (Dantas, 2014), sendo possibilidade de expansão da identidade docente que está em construção.

E para além da monitoria, o estágio docente possibilita uma discussão com maior aprofundamento sobre o que inere a formação inicial e continuada de professores e qual a importância de prosseguir a formação.

Em relação a quarta pergunta, a qual os indagou acerca das contribuições da monitoria para a construção da identidade docente, todos os monitores relataram que a monitoria acrescentou para este desenvolvimento de uma identidade docente que está em constante período de aprendizagem. Algumas pessoas pesquisadas demonstraram maior interação entre essa relação da monitoria e identidade docente, outros menos. Houve um monitor que teve a experiência em época de pandemia, o qual relatou que a monitoria não contribuiu tanto como gostaria, mas que de certa forma o ajudou em outros aspectos.

Entre as respostas mais relevantes, a que nos chamou a atenção foi a qual falou sobre os momentos de reflexão durante as aulas na monitoria, onde o participante demonstrou bastante preocupação em relação a qual tipo de professor será no futuro com seus alunos e quais as formas de lidar melhor com as situações diversas que ocorrem no meio docente, onde o mesmo relatou ainda não ter respostas para todas as questões que o emergiram ao longo do processo, que depende da construção constante de experiências e vivências que possam lhe mostrar o melhor caminho para lidar com as adversidades no processo de ensino-aprendizagem, e que a monitoria foi sem dúvidas muito importante na graduação, como mostraremos a seguir na sua fala.

ao vivenciar o cotidiano docente no ensino superior, através da monitoria, me questionava constantemente: qual o meu papel como monitor e futuro docente? Que “tipo” de professor eu quero ser? Como lidar com a diversidade de questões, problemáticas e situações que acontecem no processo educacional? Como posso contribuir efetivamente para o processo de ensino e aprendizagem de outros discentes, que assim como eu, estão em formação inicial? É certo que eu não tenho respostas prontas, fáceis e rápidas para todas as questões que emergiram do cotidiano docente, mas a experiência na monitoria contribuiu para a construção de uma identidade docente fundamentada no diálogo e na aprendizagem mútua, participativa, colaborativa, visando a construção do conhecimento crítico e criativo (Participante 7, 2022).

A metodologia das aulas foi citada por muitos participantes da pesquisa, os quais relataram ter mais aproximação com os conteúdos ao longo do processo de monitoria, além da identificação com as disciplinas escolhidas para monitorar. O enriquecimento teórico foi citado também como parte integrante do processo e das interações com o conteúdo nas aulas das disciplinas.

 O papel do professor pode ser observado de perto como monitor, pela aproximação do orientador durante a vigência do contrato, o qual poderá incentivar muito a seguir uma carreira na vida universitária, assim como foi abordado nas respostas, a participante 11 (2022) nos relatou que “A monitoria foi meu primeiro contato com a educação superior, algo que almejo para o meu futuro e considero um primeiro passo pra realizar essa função”. Os desafios propostos ao longo do processo ajudam na comunicação e contribuem para o enriquecimento de um vocabulário técnico e apropriado para o ambiente universitário.

Acerca da quinta e última questão tratada na pesquisa com os monitores, a qual os questionou acerca do impacto da monitoria na formação profissional, os termos mais citados pelos participantes da pesquisa foram o processo de ensino-aprendizagem e como a monitoria impactou de forma positiva nesse âmbito, podendo caracterizar a compreensão do processo educativo através das experiências obtidas com as aulas ao lado do professor, podendo intervir nas dinâmicas e construir uma relação de via de mão dupla com o professor e com os estudantes.

A fala da participante 3 (2022) pode demonstrar a relação que a monitoria pode proporcionar aos discentes em formação “Condições que vão desde o comportamento deste professor em sala de aula, forma de socializar com os discentes, modo de elaboração do plano de aula e materiais de apoio utilizado para uma melhor compreensão do conteúdo”. É interessante analisar a monitoria como um processo de extrema importância, ao perceber que a maioria dos monitores egressos obtiveram experiências muito valorosas para a formação profissional e pessoal. A didática do professor orientador pode ajudar na construção dessa formação profissional ao propor metodologias que se encaixem de acordo com sua identidade docente.

Entre os pesquisados, apenas uma pessoa relatou o fato de a monitoria não ter impactado sua formação profissional, pois participava das aulas apenas como observadora, caracterizando a monitoria como apenas ambiente de observação, o que não é objetivo da monitoria. O objetivo da monitoria é que o aluno participe do pleno desenvolvimento das aulas, atuando na ajuda de dúvidas, questionamentos, na produção do plano de ensino da disciplina ou até mesmo ministrando aulas ao lado do orientador do processo.

A monitoria, vista como uma atividade acadêmica possibilitada ainda na graduação, é uma possibilidade de inserção dos acadêmicos na vida docente de professor, se tornando um importante canal de fomento ao ensino superior, assim como se objetiva nos cursos de formação, em específico a UEPA ao demonstrar a monitoria como “espaços de aprendizagem e a estimular o interesse pelo magistério superior, aprimorando a qualidade do ensino” (UEPA, 2015, p. 01).

Entre o debate e as diversas oportunidades que a monitoria possibilita aos acadêmicos, é importante citar que a monitoria em si não tem relevância se não for feita da forma correta, a partir de dinâmicas que incluam o monitor ao processo. E para tanto, a experiência que obtive com o estágio docente, a partir de uma prática de estágio dialógico com a professora orientadora, a qual foi importante para a minha formação continuada como professora do ensino superior, no contexto de uma dinâmica que possibilitou a presença nas aulas de maneira ativa e dialogada com a disciplina e com os alunos, além de uma didática que possibilitou a aproximação da turma com a professora.

Aspectos como estes podem abrir caminhos para uma formação dialogada e crítica aos professores de educação física, onde de acordo com Freire (2001), o professor é capaz de atribuir a uma determinada prática, alguma determinação que possa melhorá-la através da tentativa, ou seja, é o processo de pensar de forma crítica sobre a prática que leva a determinadas concepções que apenas a teoria isolada não seria capaz de resolver. É necessário que haja o momento de crise entre os pensamentos e a realidade para que haja a superação de aspectos considerados irrelevantes para o ensino.

Conclusão

Em virtude dos dados demonstrados ao longo da pesquisa, é inquestionável o papel de extrema importância que a monitoria acadêmica desempenha nas vidas dos monitores egressos, os quais experenciaram a oportunidade de aproximação à realidade das aulas na graduação de um outro ponto de vista, com um lugar de destaque ao lado do professor, que é considerado um sujeito de referência que ocupa um lugar almejado por quem se interessa pela docência pública no ensino superior.

Então, a partir do nosso objetivo central para a pesquisa, que foi caracterizar as implicações da monitoria na construção de uma identidade docente para professores em início de carreira, obtivemos resultado satisfatório de grande impacto, com base nas respostas dos participantes da pesquisa, os quais se referiram ao processo de monitoria com olhar de valorização pessoal pelo processo que pôde acrescentar em suas formações acadêmicas e pessoais, em decorrência da estruturação de novas vivências no âmbito educativo para o ensino superior.

A oportunidade que desfrutei em ter participado da monitoria como bolsista abriu portas para muitas discussões e incentivos a minha continuidade e perspectiva em trabalhar com o ensino superior. As minhas características e objetivos pessoais foram também citados pelos participantes da pesquisa, os quais relataram ter sido essencial o processo de monitoria para a formação profissional.

A identidade docente dos professores, articulada aos processos que são possibilitados ao longo da Universidade, são de suma importância para a melhoria do ensino e da formação de professores. Sendo estes professores, parte essencial de uma sociedade que vive em constante luta pelos seus direitos enquanto cidadãos participativos de uma sociedade com modelo capitalista. Sendo assim, os professores são historicamente marcados por serem pessoas ativas nas lutas coletivas para o bem da sociedade em geral.

Encerramos este texto demonstrando a satisfação em propor um estudo pioneiro aprofundado na monitoria na UEPA, além disso, este recorte e a pesquisa maior, a qual foi usada para concluir o mestrado em Educação na UEPA, será suporte teórico e prático para políticas de melhoria da monitoria nos cursos de educação física em todo o Pará, que estes sejam voltados para a formação inicial em sua totalidade, focadas na intervenção profissional desses futuros professores.

Referências

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Os autores

Ana Carolina Dias Semblano. Graduada em educação física pela Universidade do Estado do Pará (UEPA), mestranda no programa de pós-graduação em educação da UEPA, na linha de formação de professores, possui especialização em educação especial e inclusiva e treinamento desportivo. Membro do grupo LEPEL – Linha de Estudo e Pesquisa em Educação Física & Esporte e Lazer.

Marta Genú Soares. Pós Doutora pela Université de Montpellier/França (2015) e pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (2014-2015). Doutora em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (2004) e Mestre em Educação pela Universidade Metodista de Piracicaba/SP (1998). Professora Titular da Universidade do Estado do Pará, lotada no Programa de Pós-Graduação em Educação/UEPA, no Eixo Formação de Professores e Práticas Pedagógicas, e no Curso de Licenciatura em Educação Física.